Sente - William Gomes 26/07/2007



Sentimento
Sem ti, minto
Sem mente
Calo meu sentimento

Compreendo
Em ti, me prendo
Te repreendo
Estou comprometendo.

Foto: Luis Ferreira

O menino de asas - William Gomes 24/07/2007


Decidido vai
Opondo o vento
Ligeiro danado
Despede-se da alba
Corcel dos ares
Envolve o pensamento
Cantarolando acalantos
Preenche o espaço
Aplausos escassos
Enfeita o céu
de pena e de dó
Adormece sorumbático
Faceira gravidade
Em odores funéreos
na cama de rosas
A alma voa em asas furadas
E decidida vai
Do corpo moldado
Sobre os devastos espinhos
Só restou a plumagem
Livre e leve
Segue seu destino
em itinerantes aragens.

Agradecimento pela foto a Binho Brill.

Desde o Primeiro Dia

Desde o primeiro dia em que te vi
Eu te segui com o olhar
Fui atrás dos seus passos
Do seu rastro no ar
Vasculhar seu amor
No que eu pudesse achar
Nas cartas pelo chão
Retratos no mural
Pedaços de canções pra mim
Desde o primeiro dia em que te vi
Eu conheci o amor
Mais real, mais bonito
Que eu podia inventar
Como um cais pra nós dois
Sabia até cantar
As frases que depois
Você iria usar
Os beijos que eu não posso mais
Viver sem encontrar
Sem te contar
Do tempo que eu levei
Pra te achar
Hoje acordei com frio
Hoje, meu amor
O quarto está vazio
Desde o primeiro dia em que te vi
Eu te perdi sem saber
Te esqueci escondido
Congelado em mim
Flor no vaso a morrer
Mas eu não vou chorar
Eu busco o eterno sim
Até onde não há
No ar o nosso amor em vão
Que eu amo até o fim
Até virar a nota da canção
Ilusão


Composição: Guile Wisnik & Chico Pinheiro
Foto de: Alfredo Ventura de Sousa

Meu Amor Se Mudou Pra Lua

Cai a tarde sobre os ombros da montanha onde me largo
O dia não foi, a noite o que será
Meus cabelos pela grama e eu sem nem querer saber
por onde começo e onde vou parar

Na imensidão da manhã
meu amor se mudou pra Lua
Eu quis te ter como sou
mas nem por isso ser sua

Vou adiante como posso, liberdade é do que gosto
O dia nasceu, azul é sua forma
Já não quero mais ser posse, fosse simples como fosse
Um dia partir sem ganchos nem correntes

Façamos um brinde, façamos um brinde
à noite que já vai chegar
Façamos um brinde, façamos um brinde
ao vento que veio dançar.
Música do CD:Só Nós - Paula Toller
Composição:Nanung

Poderio inusitado - William Gomes 19/07/07


O pouco tempo que passo contigo
É o suficiente pra te querer muito mais
Eu queria poder me exibir mais
Ah, se meus desejos realizassem
Queria fazer de meus dedos
O mais perfeito manuseio
Envolvê-los em teus cabelos
Sentir cada fio faiscando as veias
Córregos de desejo
Bombeios de emoções
Até tudo isso chegar em meus olhos
E notar tua presença
Em coisas pequenas, simples e vãs.

O pouco tempo que passo contigo
É o suficiente pra te servir muito mais
Eu ficarei onde quiseres
Todos seus quereres farei
De seus orgasmos, o executor serei.
O pouco tempo que passo sem ti
É uma eternidade finda
Gasto essa tua ausência em lembranças
Lembro dos poucos movimentos horários
Que passeei em tua mansa voz
Reparando em seu corpo
Defensivo e invadido diminutivo
Vontades querem perfurá-lo
E a cética distância domá-lo.

Estrela D'água - William Gomes 13/07/2007


Relevante vai o barco
Solitário divagando
Entre brisas e luzes
No horizonte do engano

Sobe sobre o vento
Seu destino é o céu
Remado de vanglória
O barquinho de papel

Calma que o sol chegará
Pra secar-te labaredas
Repleto de gotas
Futuras estrelas.

Declaração implícita - William Gomes 12/07/2007


Querer-te é um engano
Repare em minhas intenções
Serei teu engodo
Veja o que há detrás.
Eu chamo, escrevo e canto
Cada momento nosso é tão ligeiro
Inocência é o que penso.
Entre em minha mente
Sinta-se à vontade
Faça dela sua evidência
Só não mexa em suas fotos.
O tempo é tão breve
Não me veja enquanto te vejo
Não quero que meus olhos desviem de ti
Teça a linha das horas
Impeça que ela avance
Meliante natureza
Indecisa entre exibir ou esconder.
Debaixo da verde grama
Estarei em teu solo só
Zombando de nossas vidas
Só quero que note e conserte os furos.
Está tão claro,
A distância ajuda a ver tudo.
A distância ajuda a evidência.
(pra "você")

Foto: Nuno Guerreiro

Três sextilhas – William Gomes 01/07/2007


Sob a breve existência do riso
Está a finda alegria que o consome
E diverge-se tudo aquilo que o corpo pressente
Remanescendo a gota do errado em suas lentes oculares
Que reconhece entre vultos
A verdade metafórica da tristeza.

Além das adormecidas vias vitais
Se acaba todo esforço demasiadamente úmido
Das águas do corpo entediado
Como plumas à ventania
Colidindo-se à rigidez dos troncos
Imóveis na mesma monotonia.

A face exibe a experiência vivida
Para o saber da mente e o conforto do corpo
Modificando o gesto do sentimento oculto
Revelando aos poucos suas deformidades
Até chegar a um conceito prolixo
Através das limitações das escolhas.
Foto: Leonardo Braga Pinheiro