Urbano


Era um domingo. Era um almoço de domingo. Não pense em família nem companhias humanas, não. Ele morava só por sobrevivência. Porque a única forma de vida é a sobrevivência. A vida mesmo, começa e termina no orgasmo. E 27 anos morando aqui, nem sequer respondia pra família. Correspondia era consigo mesmo e com as garotinhas de calcinhas flexíveis. Seus relacionamentos, de todo gênero e classe, não passavam de necessidades básicas. Feito água quando sede e gordura quando fome. Sinceridade pura.
Finais de semana sempre simbolizavam seu grau de decadência. Cafés no almoço, almoço na janta, álcool na madruga... Adoçava café com ressaca. Sem contar a higiene que andava em desalinho e mal passada. Enquanto os sábados eram tão vivos, os domingos eram tão ele.
Bate a porta. Via os pontos turísticos sempre tão óbvios e monótonos. Qualquer ouvido se torna penico porque sempre falta lixeira para lixos sonoros. Sente a mediocridade da falta do que fazer das pessoas no ar. Ele também era uma pessoa. Uma pessoa com cidades. Ou uma cidade com pessoas...

Musical

é de todo açúcar e música
se derrete a cada chuva
que acontece entre minutos
acelerados e impávidos
tão métricos e herméticos
partituras caladas
de poemas pélvicos.