Dois trocos da mesma moeda - William Gomes 24/08/2007


Tarde normal, iguais a tantas outras. Entrei no supermercado. Precisava trocar um real por duas moedas de cinqüenta centavos, ou de quaisquer outros valores. Mas, por ironia do destino a mulher do caixa respondeu ironicamente e ignorantemente:
- Não tenho! - sem nem ter o trabalho de olhar pra conferir.
- Tá certo. – respondi.
Dei meia volta e pensei: “Pensando bem...”. Acabei de dar mais meia volta e fui ver alguns doces. Hum... Peguei uma geléia, daquelas que tem a metade amarela e metade vermelha, custava uns dez ou quinze centavos. Aproximei do outro caixa que tinha uma mulher atendendo um vendedor e esperei. Coloquei a geléia ao lado da cédula de um real e esperei. Ela fingiu que não me viu. Continuei esperando. Saí e fui trocar a geléia por um chiclete que custava cinco centavos. Pronto, esperei. Chegou um cliente e esperou na fila atrás de mim - ainda bem que ele chegou, senão estaria lá até agora. Ela me viu novamente e percebeu o cliente atrás de MIM. Chamou a outra mulher que estava desocupada, aquela eu já havia conversado antes, e disse:
- Ô “Fulana”, atende ele lá no outro caixa que eu vou demorar um pouco aqui...
Imediatamente ela disse:
- Ah, eu não tenho dinheiro trocado ali não! – e foi em direção ao outro caixa para atender-nos.
Eu e o cliente fomos pro outro caixa e eu fui o primeiro a ser atendido. Lógico. Deixei o chiclete ao lado da cédula de um real na mesma posição e fiquei olhando. (Uma pausa – quero falar aqui sobre essa cena. Foi linda, o chiclete virado pra mim, ao lado do real. E o balcão completamente vazio.)
Ela pegou o dinheiro e falou diretamente com o CLIENTE, como se eu não estivesse lá:
- Deixa eu trocar o dinheiro ali!
Foi no escritório. E trocou!
Sem dizer absolutamente nada, me atendeu. Me deu de troco: uma moeda de vinte e cinco, duas de dez e uma de cinqüenta centavos. Conferi. Muito bem trocado. Saí satisfeito mascando o chiclete.
...
Há alguns tantos e tantos dias antes disso, naquele mesmo local aconteceu outro momento, digamos, diferente. Mas dessa vez foi com a mulher que estava no outro caixa.
Fui comprar algo que eu não me lembro. Custou R$1,98. Dei dois reais. E esperei, não o troco:
- Você vai querer uma bala ou os dois centavos de troco? – ela me perguntou ironicamente e ignorantemente.
- Não. Vou querer que você embale pra mim.
- Não custava nada você embalar! – respondeu ela brutalmente enquanto embalava.
- Mas quem é pago pra embalar aqui é você! – devolvi a brutalidade.
Saí felizmente e realizado.
Depois disso, nunca mais saí de lá sem nada desembalado.
...
Com tantos momentos marcantes assim, como mudo de supermercado?

(Não citarei o nome do supermercado devido a tamanha consideração minha com essas atendentes sorridentes e simpáticas, que a cada dia nos enche de Obrigados, Bom dias e tudo mais...)

Lúgubre - William Gomes 15/08/2007


Triste ocaso malfadado
Escancarados meus segredos deixaram
Páginas caídas aos azulejos
Do corpo oco emoldurado.

O que são desejos?
Reflexos do sentido oculto?
A tríade trepida:
ser, querer e ter
Convulsão de emoções
Sensações a explodir dentro de mim.

Malévolo fim
De mim já me arrebatou
O elixir me faltou
Jocoso estopim.

Foto:Brites dos Santos