Navegadora

não pense
que só porque
é de rodinha
a tua âncora
está isenta
de tua essência
mar´tima.

Exosfera, meu amor.

Hoje nós tivemos a tendência a virar chuva. Foi essa força da gravidade, que tá acontecendo sem fazer barulho quando a gente cresce - quando a gente some. Quando qualquer som que aparecer for consequência de algo que chocou, ou um atrito que explodiu. Daqui a pouco você evapora quando eu tomar meu café da manhã e perder o jejum. Reencontrar a mecânica dos dias entre aquilo que passou e isto que não nos deixa mentir quem somos. Lembrando que eu só estou dizendo isso para experimentar uma forma de me sentir suspenso enquanto a chuva me percorre. Um ponto vira uma exclamação quando chove. Uma nuvem vira crise. Há um desejo agora de me ascender. De trazer pra cima a beleza cansada de ser leve e tudo bem. E-le-var, um esquema cotidiano esse de tornar as coisas menos gravidade. Mas nos dias de folga eu te direi: 'vai pra mim, hoje' ou ‘vai por mim’... Vai, por mim, porque eu confio no amanhã, que só é vazio por eu desconhecer o que há de vir ao meu encontro pelo poder de estar vivo. Poder ser lido. Você, ele, aqueles e aquilo têm a capacidade de me variar - entre aquilo que passou e isto que não nos deixa mentir quem somos, mais uma vez.
Exosfera, meu amor.
eu sabia que Abigail deixou de existir já faz cinco semanas. e agora tem muito de memória nômade no ar à espera de uma brecha que a fagocite, e que a conecte entre aquilo que é por ora meu e por ora vindo.

e falando em vindo... era uma vez – ou duas, ou cinquenta vezes uma d-existência.
o defeito é a maturidade dos brinquedos
quando o conserto é válido
o tempo já é velho, e o vento
vai à pilha
pela trilha
entre o começo e a curva
falha.

dê um sopro pra ver se pega
ou pra ver se apaga.
minha quarta
meu salo
meu cozinho
minha banheira
meu caso
de amor pelos cômodos.

Ao Gusta

em noites de difícil acesso
fácil um café, que não resolve
a porta fechada que dissolve
a brecha aberta
da bicha aborto
purpurina solúvel na bolsa líquida:

o útero

é hétero, nasce.
se for do mesmo, cresce.

os tais















pouco me importa que você está em outro lugar.
os lugares também são, outros.
exceto os postais.

foto | Nick Bantock, Griffin & Sabine

bit


poeS/A


descalculando o que há demais e de menos.

se o que chamo de quarto é o que abriga o que chamo de corpo, e que está frio agora com uma xícara morna em repouso na coxa áspera, então está tudo bem. daqui a pouco eu morro morno. depois de ficar quinze horas esperando o abatimento do tempo me dizer que a camada solta e invisível que coloro quando desfilo pelas ruas do bairro ainda me pertence. até mesmo sem contar que a dízima que a vida multiplica por dias futuros é igual a todos os amanhãs que virão com mais cafés e subtração. daqui a pouco vem o momento que distrai o que chamo de pausa-perpétua-de-pensamento. vamos aguardar.
e ver o que ainda temos na despensa.