conflito

primavera veio
a janela do quarto de betinha
antes não molhava
agora sim
ele acorda suado
e vai trabalhar.

eu latinha

se fosse pra supôr-do-sol
levo a quarar
a bala, a moeda e a agulha
do baleiro
e o próprio baleiro
seu tactel sem nome
sua cor de isqueiro
o nome da mãe na pele
e a ruga no cotovelo.
não arremessar amanhãs.
é o que tem pra hoje.

cerimônia

as miçangas no pescoço
tem dança na cervical do cabelo
tem banho de assento e de chuveiro
ao mesmo tempo
corrente sanguínea
nylon de armarinho
e pubianos no azulejo
acústica de banheiro não guarda segredo

ao mesmo tempo
cortina de fumaça
presença de vento
frente fria
curto-circuito de pertencimento.

já dizendo

de agora o corpo tenta
exasperar os limites do dizer
já dizendo que dos pormenores
não estaremos livres de inflação
já dizendo que na maioridade
somos basicamente assunto e pão
e por vezes, alguns cacetes
que se fermenta na memória
qualquer roupa suja pode ser confissão.

bur/i/lando
a complexidade da vida
entre otimismos e otimemes.

ir-rigar

deixar de limo
que a terceira margem
do rio
não tem segundo turno.

meias

meias
palavras lidas
ao pé da letra
caminham ausências.

escaps lock

nosso estudo proxêmico
borrando cafés, limites
datilografias e fins de mundo
a torto e a direito
estamos sempre entre abismos alheios
quem sabe nossa voz se faz mais justa
em vias de dúvida
escaps lock

saca-rolha

traduzir-se:
explícito santo

sobre liquidez:
minhas lágrimas:
desconheço

amo tempo de cobra trocar de pele