Thamis comprou esse disco com o namorado em dezembro de 87. Era lançamento na época. Tinha o costume de ouvi-lo nos fins de tarde de domingo. Quando tocava a Valsa de Uma Cidade, ela desapegava de tudo e se via de volta ao Rio de Janeiro. Apesar de odiar todas aquelas calçadas cheias de gente, e aquele calor da necessidade de ser bonita. Aquele falso desejo de estar naquela relação afetiva que fazia dela mais um penduricalho ilegítimo naquele emaranhado de amigos em comum. Todos oscilantes entre o amante e o descartável. Tudo ficava menos interessante quando as pessoas chegavam caladas e as olhava com olhos lilases de libido, e de novidade. Não que tudo ficasse menos interessante, corrijo, tudo ficava era mais obviamente raso mesmo. E ela gostava também disso - nunca disse que não. Mas era o Plano B, pô. O A nem ela sabia ao certo, só não era aquilo e nem apenas. Aquele resumo de intenções. Tem sentido que as pessoas daqui ficaram mais cansativas, e cada vez mais tem as querido menos. Mas hoje, ela mora em Curitiba faz três anos, tá ruiva, perdeu seu namorado na última discussão e não tem mais ouvido Caetano. Sua inspiração agora tem sido tudo aquilo que remete ao Sul de qualquer lugar, os postais que não param de chegar e varanda da vizinha da frente que funciona como uma tv dessintonizada mas eficiente na distração dos dias de molho branco. Tem transpirado mais nos últimos tempos para dispersar todo o calor-memória daquelas tardes cariocas, ridículas e cinzentas - falsas que nem a segunda asa da xícara que transborda carência.
pós-fogo
fósforo
paga de pá
vil.

Perspectivas

trouxe enquanto bagagem
um pouco de perspectiva
- ou seria viagem?

Processo

de lisa
a mente
não fere

a velocidade
do deslizamento
que interfere

na fronteira
transbordar
deixa de ser goteira.

Exílio

onde há espaço
para as mãos
manter os dedos afiados.

onde
para os dedos
manter os meses sob controle.