Noite

postes
pontos luminosos
no breu da civilização.

Matéria-prima

em meados de setembro
as palavras se revoltaram
e ainda lembro, como ontem
meu excesso de reticências
poluindo meus pensamentos
pontilhando os absurdos.

já estamos de acordo
a coerência foi meu escudo.

Civis

dois malandros andando
um gingado em sincronia
que eu reparei melhor à noite
do que à luz do dia

dispostos com roteiro pronto
num ponto de ônibus parado
quem sabia o que ali previa
dava-se o direito de ficar calado.

Hoje resolvi fazer diferente

Hoje resolvi fazer diferente. Ao invés dos pés, preferi colocar as mãos na lareira. Minhas luvas de carbono estão mais agitadas do que de costume. Os estalos eram provocados pelas teias de aranha e delas próprias. Perdão pela morte despretensiosa. Eu sei que é proibido. E agora, o que me preocupa mais, é saber como acender aquele maldito cigarro. Não vou te dizer que já faz um tempo que estes sapatos deram pra rir de mim também. Por isso! Você não acreditaria. Como sempre costumou fazer às 11:18, às 15:46 e às 23:02. Et voici votre livre stupide, servant de combustible pour mes lamentations. A campainha tocou uma vez. Outra vez. Outra vez. Antes da próxima, como reflexo, enrijeci meus dois dedos médios com muito gosto. Porque meu pau já estava. Desde que comecei esse parágrafo.

A.com[panhados]

A.com[panhados]
...

- Hahaha... Tu acha que meu humor muda muito na madrugada? Tô na dúvida.
- Parece que você está sob o efeito de entorpecentes, ou seja... muda!
- Sou um careta tão fodão assim? Me fume!
...
- ON?
- ...
- Non.

Avezzo


eu gosto da vida pelo avesso

iluminação diurna em postes noturnos
cartões públicos em postais telefônicos
uma estrela opaca
o primeiro trago
o último afago
linhas à mão
cadarços frouxos
sexo prático
autoabraço
chantagem artificial
amor em plural
o ponto inicial

interiores em capitais
pontos turísticos em interiores
os pardais:
vagabundagem em horários comerciais
solidão coletiva
o desktop e a lixeira,
apenas
salada delivery
bagagens à mão
peneiras herméticas
o balde do poço
o inferno de hidrante

arte morta
natureza-abstrata
dispenso best-sellers
sebos escassos
filmes em rmvb
hellywood is the end

C'est pas moi, je le jure!
palíndromos, talvez

e aquela estrela era um avião.

Calabo-capital


só um pó
que podemos ser
quando um sopro
provoca
de propósito
isto que já somos.
...
- Seu amor é anarquista!
- Em qual presídio te ensinaram isso?
...
- Você é fumante?
- Não, sou escritor.
...
- Só foi um mal de oficina.
- Obrigado pela manutenção de nos manter.
...
- Que horas são agora?... E agora?
- A gente muda mais que as horas.

Tudo eu

Hoje eu fui três.
Eu ri aos 12 às 13.
Me vi aos 20, tão 12.
Deixei-me ser mais um sem ser.

Ceio-te

hoje eu almocei só.
aos prantos no prato
com fome de como se come
quem de mim se serve.