Trecho de livros

“Piada trágica, a vida! Passar noves meses num ventre materno, insento de tôda compreensão e de qualquer luz. Tudo numa infância arrastada, bêsta. Virar homem! Lutar incrivelmente como se se debatesse contra a morte que viria certa, segura e fatal. Mas que somente viria quando bem desejasse, evidenciando sua grande e cruel personalidade.”
(José Mauro de Vasconcelos em Rosinha, minha canoa.)

“Sua qualidade era exatamente não ter quantidade, não ser mensurável e divisível porque tudo o que se podia medir e dividir tinha um princípio e um fim. Eternidade não era a quantidade infinitamente grande que se desgastava, mas eternidade era a sucessão.”
(Clarice Lispector em Perto do coração selvagem.)

Elba - William Gomes 10/03/2007


Te quero mais do que posso
Mais do que tenho
Tu és diferente
Me dá mais do que preciso
Será por desejo?
Por medo?
De te deixar
Um bilhete dizendo
Um adeus seco, sem poesia
Sem lembranças
Como uma história perdida no ar
Sem ninguém pra contar
Como uma música perdida nas vozes
Sem ninguém pra ouvir
Como uma novela perdida nos fatos
Sem ninguém pra consertar, distrair
Jamais farei isso
Seus homens sentem sua falta
Ao deparar com suas camas vazias, frias
Que tu passas deixando
Carícias, afetos, vontades
Encontrei em mim
Marcado com prazer
E escrito com batom.

Marisa - William Gomes 10/03/2007


Ah... Marisa
Quando penso em ti
Me vejo em seus olhos
As duas ardósias mais cintilantes que se pode ver
Elas refletem todo o meu sentimento
Me tornando mais vivo
Seu jeito, seu corpo
Me leva a lugares que eu não sei onde ficam
Que não sei se existem
Mas que me dão um certo privilégio
De estar perto, Marisa
Quando estou contigo fico dividido
Onde os dois gumes são teus
Meus lados, meu todo
Meu erro
De ter-te amado tanto
A ponto de esquecer de mim
De ver que já passaram horas, anos
Pra me libertar e ver
Que não era erro, era ilusão
Prazerosa, proveitosa ilusão.

Clarisse - William Gomes 10/03/2007


Te imagino trazendo seu jeito, seu cheiro
Me fazendo crer que não estou só
Que te tenho em minhas noites
Quietas e gélidas
Traga mais vida em minha vida
Mais companhia em minha saudade
Mais sorriso em minha dor
Clarisse
Imagino você me chamando
Sacudindo minha moleza, minha inocência
Tirando o peso da alma
Tornando minha manhã mais viva
Mais calma
Me mostrando o brilho no fim
A força nas flores
A beleza na loucura
Clarisse
E se não gostasse de mim ?
E se fosse verdade ?
E se eu não te quisesse ?
E se fosse mentira ?
E se fosse triste ?
E se fosse minha como sempre foi ?
E tudo isso tornasse vivo ?
E você, Clarisse, como é ?

Escuridão - William Gomes 19/02/2007


Quando fecho meus olhos
É você quem vejo
Vindo até mim
De braços abertos, se entregando
Por um instante me envolvendo
Com seu carinho, sua ternura
Queria que essa fantasia congelasse
As águas pousassem
Por um certo momento de prazer
Que ela ficasse sempre nítida
Em meu consciente inconsciente
Sólido, concreto
Não, não vá assim sem dizer adeus
Me despedindo apenas com um olhar inocente
Um sorriso me lembrando coisas
Que deveriam ter feito
Mas que a vaidade não deixou fazer
Não, ainda não
Porque tiras a luz no momento
em que mais preciso dela?
Como enxergarei seus sentimentos?
Pra poder saber o que realmente sentes por mim
Me engane, mas esteja comigo
Tua presença já é o bastante
Pra saber como está
Pra saber que ainda há esperança dentro de mim
De um dia poder ser minha
Mesmo que isto custe anos de solidão
Estarei esperando por você
De qualquer forma
Com qualquer forma
Pronto
Pode ir
Mas volte sempre que puder
Nem que seja ao menos pra trazer
Inspiração
Pra fazer um sonho como esse.