No pé do morro

para mim não valem muito as estranhezas que há por detrás daqueles montes.
de que adianta descobrí-las sem eu poder trazê-las para minha morada.
não cabem nas estantes, armários e despensas onde guardo meus refúgios mentais.
e por falta de espaço, os amarro nos galhos turvos do umbuzeiro.
e me pergunto
se eles são de fato turvos, ou se cada fruto falso que ali deposito exaure uma fração de minha realidade.

Canibal

se tratando de ser
traga o próximo prato
um tanto maltemperado
de loucura e prazer
para me saciar
para misticizar
roer o osso dantes a digestão
de sobremesa, o coração.

Cômodo

a sala
sem ela sem janela
o canto
fixo nos ângulos
de fato
o teto que se sobra
só cobre o que há de molhar.

De noite

eu levei uma cantada
pouco mais do final do expediente
incrivelmente como pela madrugada
encontram-se tantos seres carentes
querendo acabar o dia com estilo
e sabe lá, se o que procuram
é de fato racional ou é por quilo.