o mundo tá
cego de .
de vista
de .
de vista
o mundo tá
c ego?
A FOLHA QUE PEGOU CARONA NO PÁRA-BRISA, DEU NO BAIRRO SEGUINTE.
isso de tratar o tempo
como quem trata
uma galinha
tá me deixando mal passado.
o olhar não muda
divisão
quando o corpo
armadura

rodoviário

que minha meritocracia hoje desatinou
via papel de carta de temática floral
só voltaria quando perdurasse num arbusto
robusto e primaveril entre os tantos capins
escorregadios que compõe um estrada vaga
balançante no vento do automóvel no asfalto
falso e petrolino
como henna na pele clara de um mestiço rodoviário

quando café cedo não se faz notório.

repouso

pro sono pesado haja
travesseiro de pena
que não gosto
prefiro deitar
sobre um muro e um braço
de lado
eu passo léguas
de madrugada esvoaçante
escutando o som do ventilador
pra espantar os pernilongos
e pesadelos atrasados.

esqueci de lhe dizer.

de A a V

es
ca
va
ndo eu
retro
es
ca
va
dei
ra
ora
se
min
ha
mão
no chão
resolve
ab
sol
ver
de
ponta
cabeça
um
sa
ci
me
cânico
fun
din
do
a
tu
a
cu
ca.
...

- um lugar que você gostaria de estar hoje?
- em meio ao mundo.
...

- você anda como quem corre de galochas.
- desconhecer o aí do que vem também é nadar.
na madrugada dá tempo:

de pôr as aspas no "hoje"

o óbvio no berço

o sono no cabelo

limpar o cinzeiro

mastigar o longe

fechar ciclos:
nem que eu tenha que voltar amanhã.

amornar

num caso de amor
entre o domingo
e o dadaísmo
tudo tarde:
acordar, almoço
farda de molho
lata de milho
trânsito frouxo
cinismo
daqui
até às seis
vai sobrar algum caroço?

coador

posto que é chama
que seja térmico
enquanto bule
se não for café com leite.

céusius

queimar a língua e perder os pontos a seguir na escrita ao sabor da pressa de esfriar quem sabe a palavra inflamável tem gosto de mar quando choro quando preparo paladar um segundinho a mais de silêncio pra mim e pra você e pra mim demorar na temperatura do último dito que fizemos hoje acordamos sem precisar de despertador quando a falta de sonho já é suficiente pra levantar da cama e sentir que é isso às vezes queimar a língua provoca um sopro de alívio
eu tenho dificuldade de falar certas palavras, porque tenho um talento de conotá-las em inúmeras possibilidades antes de você. eu tenho facilidade em precipitar-me. eu tenho dificuldade de derramar lágrimas, mesmo quando o pulsar da minha respiração acontece no ritmo da de um passarinho baleado. apressada, morna e apegada. eu tenho dificuldade de responder perguntas para daqui a dez anos. eu tenho facilidade de encontrar respostas com baixo prazo de validade. eu tenho uma cicatriz na testa, de quando eu tinha cinco anos, já tentando atravessar abismos. só que daquela vez eu tava acompanhado. só que daquela vez só eu saí ferido. só que daquela vez só eu levei os pontos. só que daquela vez só eu lembro com clareza até hoje. só que daquela vez eu não fazia a menor ideia que crescer fosse encontrar consigo mesmo mais adiante, e não saber responder quando se pergunta às vezes, como vai? só que daquela vez e até hoje eu continuo tendo pouca experiência no olhar. mas parece muito. e por falar em muito, passei muito tempo me desacostumando a olhar pra você. só que daquela vez me parece muito agora.
sobre as infiltrações que andam acontecendo em casa: não devo deixar de lavar a louça. entre um prato e outro, me dou o tempo de pensar nos ciclos que preciso fechar. aquilo que se suja é uma tentativa de ser honesto consigo mesmo. essa semana o cotidiano andou tão derrapante, sem dar o tempo de sentir a véspera de qualquer mudança. o presente não me espera para mexê-lo e perpassa aglutinando as notícias dos que passaram por mim ultimamente. e ultimamente tem chovido bastante, entre o limpar e o expulsar. tem chovido e hoje é para aqueles que carregam uma ilha no nome.

Monólogologia

no meio da rua tinha um domingo
esperando um caminho atravessar.

no meio da espera tinha uma rua
esperando o caminho atravessar.

no meio da rua esperei na segunda
vez - que resolvi desesperar.
o real
custa
caro

como a
orelha
escuta
a cera?