Bicho

inventei um novo bicho
com materiais do lixo
consumido pelos ricos
era quase um indivíduo
mas seu caráter destrutivo
fez do meu tempo desperdício.

Negro

a pele cor de noite
tatuada de açoite
grito forte preso
e calado

o belo crespo do cabelo
teus olhos são um apelo
sempre lembrará
do passado

a cultura invadida
tua língua extrovertida
nunca será só
um vocábulo.

Não solte balões. Solte animais.

Santo

amanheço frio e fresco
como um jesus de gesso
no ateliê daquele mesmo
devoto que esteve enfermo

tinta fresca da minha cabeça
uma matéria que começa
na razão que me desconheça
fé mais que mentira é essa

uma graça alcançada
uma desgraçada perdida
se pelo menos fosse puro
o sangue das minhas feridas.

me tirem desse altar
que o peso de pecar
é menor que um corpo oco
sem uma gota de saliva.

Tela

quero uma fronha de carbono
que decalque aquele sonho
com a mesma precisão

pode ser em preto-e-branco
uma estampa se criando
meu souvenir de ilusão

definida arte contemporânea
mesmo que talvez visonha
não mereça uma exposição

pelo menos me compreenda
como poeta peço licença
para mudar de expressão.

Cadáver

O cio