Supernormal


Minha infância foi uma bosta. E devo isso ao meu herói favorito: o Supernormal. Tenho vários gibis dele, e todas suas "aventuras" me inspiravam de um jeito...Ele era do tipo que ficava sempre à beira dos atos. Um cidadão exemplar. Não tinha namoradinha, nem namorado. Dava preferência aos idosos na fila das loterias e nos sistemas bancários. Visitava a mãe duas vezes por semana e conseguia acordar às cinco da manhã aos feriados e 'dias-santo'. Tinha um vira-lata verde introspectivo e de pouca conversa. Para renovar sua carteirinha de empréstimo na Biblioteca Municipal, sempre doava um livro de Boas Maneiras.
Vivia feliz sem o perigo das expectativas como se o tempo fosse algo monótono. Não se queixava. Sua magnitude era conseguir estar sem ser. Eu sabia que havia um calor brando em sua presença. Era quase transparente. O mais incomum, era que nunca consegui encontrar um boneco do Supernormal.
E já fazia algum tempo que seus gibis não chegavam mais às bancas. O jornaleiro me disse que na edição
de Maio do gibi ele tinha se aposentado porque o mundo estava ficando muito sistêmico e ele não conseguia acompanhar. 
A partir daí eu comecei a crescer morrer e não parei mais.