...

- um lugar que você gostaria de estar hoje?
- em meio ao mundo.
...

- você anda como quem corre de galochas.
- desconhecer o aí do que vem também é nadar.
na madrugada dá tempo:

de pôr as aspas no "hoje"

o óbvio no berço

o sono no cabelo

limpar o cinzeiro

mastigar o longe

fechar ciclos:
nem que eu tenha que voltar amanhã.

amornar

num caso de amor
entre o domingo
e o dadaísmo
tudo tarde:
acordar, almoço
farda de molho
lata de milho
trânsito frouxo
cinismo
daqui
até às seis
vai sobrar algum caroço?

coador

posto que é chama
que seja térmico
enquanto bule
se não for café com leite.

céusius

queimar a língua e perder os pontos a seguir na escrita ao sabor da pressa de esfriar quem sabe a palavra inflamável tem gosto de mar quando choro quando preparo paladar um segundinho a mais de silêncio pra mim e pra você e pra mim demorar na temperatura do último dito que fizemos hoje acordamos sem precisar de despertador quando a falta de sonho já é suficiente pra levantar da cama e sentir que é isso às vezes queimar a língua provoca um sopro de alívio
eu tenho dificuldade de falar certas palavras, porque tenho um talento de conotá-las em inúmeras possibilidades antes de você. eu tenho facilidade em precipitar-me. eu tenho dificuldade de derramar lágrimas, mesmo quando o pulsar da minha respiração acontece no ritmo da de um passarinho baleado. apressada, morna e apegada. eu tenho dificuldade de responder perguntas para daqui a dez anos. eu tenho facilidade de encontrar respostas com baixo prazo de validade. eu tenho uma cicatriz na testa, de quando eu tinha cinco anos, já tentando atravessar abismos. só que daquela vez eu tava acompanhado. só que daquela vez só eu saí ferido. só que daquela vez só eu levei os pontos. só que daquela vez só eu lembro com clareza até hoje. só que daquela vez eu não fazia a menor ideia que crescer fosse encontrar consigo mesmo mais adiante, e não saber responder quando se pergunta às vezes, como vai? só que daquela vez e até hoje eu continuo tendo pouca experiência no olhar. mas parece muito. e por falar em muito, passei muito tempo me desacostumando a olhar pra você. só que daquela vez me parece muito agora.
sobre as infiltrações que andam acontecendo em casa: não devo deixar de lavar a louça. entre um prato e outro, me dou o tempo de pensar nos ciclos que preciso fechar. aquilo que se suja é uma tentativa de ser honesto consigo mesmo. essa semana o cotidiano andou tão derrapante, sem dar o tempo de sentir a véspera de qualquer mudança. o presente não me espera para mexê-lo e perpassa aglutinando as notícias dos que passaram por mim ultimamente. e ultimamente tem chovido bastante, entre o limpar e o expulsar. tem chovido e hoje é para aqueles que carregam uma ilha no nome.