sempre quando uma alma espera

sem poder estar no lugar que se quer
sem folhas no calendário passado
sem saber se homem ou mulher
sem liberdade de fugir do fadado

sem tempo de entrar no ritmo
sem pecado pra brincar de amor
sem desejos para construir o íntimo
sem devolver ao corpo o furtado calor

sem ter razões pra revoltar
sem sentimentos para cometer
sem o agora fugaz
sem uma história para ser

semanas
semelhanças
semáforos
sempiternos.


Uma humilde comemoração à minha centésima composição.
Só pra não passar em branco. 100 é significativo. 101 tbm...

Ponto

todo encontro é mútuo
todo tempo é curto
todo ócio é fruto
do excesso póstumo

a vida inteira é um resumo.

Sexo (ou Amanhece)

Meninos: poetas distraídos
Meninas: confusas bailarinas
Depois que crescem

Se decompoem e se conhecem.

Garantia

Fiz um versinho pequenino e sutil
Para lembrar do meu amor que partiu
Disse que ia procurar outro par
Enquanto eu jogava numa mesa de bar
Mas esperei ganhar mais uma partida
Pra conhecer a próxima da fila.

Sem motivo não há sentido

não quero ser o preferido por sua falta de opção
mesmo que em meu comando está a situação
por tal conjuntura sentido não faz minha traição
assim eu traio minha própria razão
cansei de ser o tal, o qual, o mau
você nunca me diz um não

Imperativo alternativo

espera
que a roupa no varal ainda seca
venha pra cama e fecha a janela
veremos o que a noite nos reserva.

apressa
pegue sua roupa e não me peça
só mais outra vez daquelas
saia da minha atmosfera.

foi-se a primavera
estou farto das heteras
seja mais do que minha paquera
sonho contigo puérpera
desejo-a

só nas vésperas.

Pequenos a tempo

enquanto alguém meu banho prepara
eis o momento do dia em que o castelo se cala
sou um rei pequirente envolto num robe de cetim
proprietário do luxo em volta, mas inquilino de mim
quisera eu ter sonhos pequenos
para realizá-los a tempo, enfim.

Leitmotiv temporal

O mundo atualiza a cada agora
A água da chuva evapora
O vento bem-vindo vai embora
O amor erra e aprimora
A hora passada se contorna
O tempo nos cansa em reviravoltas
A puta sua e retoca, devota
O orgasmo gasto revigora
O cliente feliz sempre retorna
A ressaca da noite é a aurora
Quem luta sozinho se revolta
A lembrança fixa na fotografia que mofa
A ortografia se reforma
Nos livros que a professora adota
Éramos bicho numa época remota
A cada ano que passa o homem comemora
Tudo aquilo que a morte deixou pra outrora
A própria vida deteriora, falsa compositora
De biografias ignotas
Embora nossas.